As publicações feitas no perfil de uma rede social da Prefeitura de Morro Agudo (SP) sobre a merenda servida nas escolas municipais têm deixado pais e alunos revoltados. Eles afirmam que a realidade não condiz com a propaganda feita. Em vez do cardápio balanceado, que inclui frutas e verduras, os estudantes dizem receber pão seco e bolachas.

No Facebook, as postagens receberam várias críticas. Um aluno chega a chamar uma das fotos de “hipocrisia”. “Que pouca vergonha colocar uma imagem destorcida da realidade. Na verdade não é nada disso. Vocês vem servir os alunos com pães duros, adormecidos, e ainda vem dizer que está melhorando a cada dia”, afirma.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Morro Agudo instaurou um procedimento para apurar as denúncias feitas por pais e professores diante das informações prestadas por eles e o divulgado pela prefeitura.

Em nota, a Prefeitura informou que vai apurar as denúncias, mas garantiu que sempre buscou cumprir o fornecimento da merenda escolar de acordo com a lei. "Findada averiguação e se atestada a veracidade de quaisquer fatos apontados pela reportagem, a Prefeitura de Morro Agudo se comprometerá a sanar toda e qualquer falha", comunicou.

'Só tem bolacha e água'

Uma das estudantes da rede pública que reclamou da merenda nas redes sociais foi Maria Eduarda, de 12 anos. “Só tem bolacha e água. Pão sem suco. Não tem pão de queijo. Faz tempo que está assim”, disse.

Mariana de Almeida Quadros Fialho, de 11 anos, também disse que a comida não está como gostaria.

“Está bem ruim. Na hora da entrada tem pãozinho e leitinho. Na hora da saída tem vez que não dá tempo de comer porque bate o sinal para os alunos da tarde entrarem. Não dá tempo de comer. Não tem salada, nem fruta, nem suco”, comentou.


Aluna informa em rede social que come apenas bolachas na escola (Foto: Foto: Divulgação internet)

Uma mãe de aluno, que não quis ser identificada, alega que a Prefeitura postou numa rede social as fotos da merenda que estariam oferecendo nas escolas, mas que as imagens não condizem com a realidade.

“Na comida, a opção de arroz, uma carne, um legume. É isso que a gente aprende a dar para os nossos filhos em casa e a Prefeitura fala que está dando para as nossas crianças. Posta no Facebook fotos de comida, mas a realidade não é essa. O pão servido é seco, sem nada. Meu filho fala que ele tira a casca para comer só o miolo”, disse.

Além dos alunos e pais, os professores da rede de ensino também têm notado diferenças na alimentação dos estudantes.

A professora Norma de Castro conta que alimentação é adequada em relação ao preparo, à higienização, mas que há uma insuficiência desde o ano passado.

“A gente percebe uma redução na oferta. Anteriormente, as comidas eram fornecidas de uma forma mais variada, caldos, sopas. Hoje a gente recebe uma comida seca, um carboidrato e uma carne e não há frutas e verduras. É esse o nosso pedido para as escolas de ensino fundamental 1 e 2. Não que a alimentação seja ruim, mas ela precisa ser adequada de acordo com Lei, que dá pra gente várias orientações de como deve ser a oferta e distribuição da merenda escolar”, disse Norma.

Investigação na OAB


Pais e alunos dizem que imagem divulgada pela Prefeitua nas redes sociais não é verdadeira (Foto: Foto: Divulgação internet)

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) abriu um procedimento para apurar as denúncias feitas por pais, professores e informações prestadas pela prefeitura.

O advogado e Coordenador da Comissão de Proteção aos Direitos da Criança e do Adolescente de Morro Agudo, Fábio Henrique Martins da Silva, afirmou que pedirá ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas que investiguem o uso desse dinheiro.

“Analisamos que existem vários recursos de verbas federais e estaduais destinadas para a merenda, como verbas do FND, que além de repassar a verba, estabelecem algumas regras que devem ser cumpridas, como cardápio variado, três porções semanais de frutas e legumes por aluno. Segundo os pais e professores, isso não vem acontecendo”, alegou.

A Prefeitura de Morro Agudo informou que a administração é interina e qualquer questionamento sobre o uso de verba deve ser feito à justiça.